Eu sou Silvia Bonato, diretora criativa e cineasta inspirada pela vida.

Vou te contar como a história desse documentário se mistura com a minha. Eu nasci no Brasil, vivi a maior parte da minha vida, até hoje, no Rio de Janeiro em uma família de classe média bem disfuncional. Entre uma e outra briga conjugal de meus pais, que eram frequentes, eu, que deveria me sentir perdida de acordo com o modelo tradicional, buscava respostas nas personalidades das pessoas, procurava observar minha família e a das outras pessoas, meus problemas e os problemas das outras pessoas.

Desde muito nova, por volta de 10 anos, fui apresentada as artes dramáticas e estudava em uma das escolas de teatro mais consagrada do Brasil. Foi o amor pelos personagens fundido com a tentativa de entender o ser humano que me fazia procurar o entendimento dos mestres em psicologia, comportamento humano, espiritualidade e mundo num geral. Costumava prometer a mim mesmo que um dia em conseguiria ter uma família com a percentagem que amor que eu pensava como ideal, com certeza os estudos e todas as experiências que eu passava dia após dia me ajudariam a compreender o que era necessário. 

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Spoiler: Consegui!

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O tempo foi passando e a arte nunca saiu de mim. Aos 23 anos era produtora criativa de uma das agências de atores de maior destaque nacional e em muito pouco tempo chegava ao topo de minha carreira profissional, andava com uma malta da alta classe da minha área, frequentei a tão sonhada faculdade de cinema e vislumbrava perfeitamente o que eu nunca quis me tornar como pessoa. Achei que aquele topo não era bem onde eu tinha planejado estar nos meus primórdios. Talvez se eu pensasse maior... em depressão larguei toda uma vida pré construída pela metade e me aventurei a subir mais degraus, fui parar a meca, Los Angeles, CA, EUA, onde os sonhos prometiam estrelar em todas as salas de cinema. Fiz cursos na minha área, me aprimorei como nunca, sabia muito e agora sim estava no mesmo lugar que os melhores do mundo! Mas bem... não era muito bem assim a vida que eu tinha em mente como ideal. Sabe aquele topo que larguei no Brasil? A famosa L.A. era exatamente igual, só que a nível mundial. Voltei pro meu país sem chão, mas com a sensação interna de mudança que me foi ainda mais aguçada no tratamento emocional que me submeti, a mudança não poderia ser somente física, mas interior. 

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Nos frames seguintes da minha estrada eu fiz o que alguns mestres chamam de reforma interior, nada mais é do que lavar um copo, muito bem lavado por dentro, só que o copo é nossa alma, parece simples, mas foi uma das coisas mais difíceis que já fiz na vida.   Um dia, no meio do turbirão, encontrei uma fita de vídeo antiga do meu pai, uma remanescente de tantas que meu pai e meu irmão mais velho filmavam de quando eramos pequenos, com uma família disfuncional  essas coisas acabam se perdendo, mas eu tinha ali um ouro para meu estudos de personalidade. Coloquei aquela relíquia no primeiro vídeo cacete que achei e entre um e outro chiado e vi minha imagem. Nos olhos daquela pequena menina cheia de personalidade eu consegui o abrigo que eu precisava para continuar a estrada. Vi meus pais, irmão, a casa que eu tanto amava da minha infância e tudo aquilo que havia me feito chegar até aquele momento. As imagens não se contiveram nas meras imagens que tinha naquela fita de vídeo cacete, a mente viajou por tantos e tantos anos, tantos e tantos lugares, tantos e tantos rostos que haviam passado pela minha vida e aquele olhar de criança revelava a certeza de quem eu sou, de onde eu vim e o que eu precisava buscar. Quando a gente recomeça por dentro, a gente consegue tudo o que quer, foi um dos grandes ensinamentos que tive ali. Se reconhecer e buscar na nossa história de vida o sentido de estarmos aqui, faz tudo valer a pena. A vida a partir daquele ano me levou exatamente onde eu precisava ir. Joguei tudo pra cima (e também algumas pessoas me ajudaram a jogar, lol), e fui em busca dos meus maiores sonhos, me conhecer, conhecer a marca que eu deixaria  no mundo e realizar o sonho daquela pequena menina da fita de vídeo cacete, em ter aquela família do comercial de pasta de dente.

Com Orgulho enorme, isso é o que tenho pra lhe apresentar hoje, outubro de 2020.

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Meu maravilhoso marido Willian Bonato, cineasta, co-autor, co-diretor e co-protagonista da nossa história e documentário. O ator coadjuvante do doc, Chris Bonato (ao colo) e nosso primogênito, o fotógrafo dessa self e tb coadjuvante do documentário, Ben Bonato. =)